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quinta-feira, 2 maio, 2024

Conheça maior comunidade palestina de Goiás; moradores relatam apreensão com a guerra

Presidente da Sociedade Islâmica de Anápolis fala sobre a preocupação geral dos integrantes com os familiares que moram nas regiões em guerra. Mesquita que fica na cidade recebe em média 50 muçulmanos toda sexta-feira, para oração no dia sagrado.

A cidade de Anápolis, localizada a 55km de Goiânia, reúne a maior comunidade muçulmana de Goiás.  O presidente da Sociedade Islâmica da cidade, Fuad Mohamad Allan, falou sobre a preocupação dos integrantes com os familiares que moram nas regiões onde acontece a guerra entre Israel e Palestina.

 “Tenho tios, tias, primas e sobrinhas que vivem na Cisjordânia e a gente se fala diariamente. É sempre uma apreensão saber se eles estão bem. Diferente da Faixa de Gaza, onde estão acontecendo os ataques, na Cisjordânia o que sempre acontece são os cortes de energia ou internet e muitas manifestações devido o clima de revolta”, lamenta Fuad.

As tensões na Cisjordânia – onde os palestinos reivindicam um Estado próprio, junto com a Faixa de Gaza – têm crescido desde o início dos conflitos entre Israel e o Hamas. O território é fortemente disputado por palestinos e israelenses desde 1948, e as duas partes não encontraram um consenso até hoje.

Fuad e a comunidade frequentadora do Centro Islâmico de Anápolis se dizem contra qualquer tipo de violência ou ataque. Eles temem que os bombardeios na Faixa de Gaza continuem e acabem atingindo outras cidades, causando ainda mais mortes, especialmente pela força bélica de Israel. “É uma briga de elefante contra formiguinha”, resume o presidente. Confrontos na Cisjordânia durante operação de Israel deixam 8 palestinos e 1 policial israelense mortosOs caminhões que esperam na fronteira para levar ajuda humanitária a GazaMuçulmanos celebram fim do Ramadã na Mesquita Islâmica de Anapólis

Segundo o representante, a sensação de todos na comunidade é de angústia, pois não é possível enviar nenhuma quantia em dinheiro, alimentos ou roupas, já que tudo está bloqueado. Entre os palestinos que vivem em Anápolis e em outras cidades goianas, praticamente todos mantêm contato com familiares que moram na região.

“Até o corredor humanitário está bloqueado. Ou seja, não está chegando água, não está chegando comida, nem remédios, não está chegando nada. E mesmo se chegasse algum dinheiro, não tem nada para comprar lá. O mundo todo está assistindo a um genocídio de braços cruzados”, desabafa o presidente.

Fuad afirma que não consegue enxergar uma solução para o conflito, pois acredita que a guerra centenária acaba alimentando o sentimento de vingança de ambos os lados.

Conflito por território e não religião

Para Fuad, os países do ocidente têm uma visão equivocada sobre os conflitos entre Israel e Palestina, ao acreditarem que eles acontecem por conta da diferença religiosa, quando na realidade, são sobre a disputa de território.

Ele afirma, inclusive, que a Palestina tem uma população majoritariamente islâmica, mas que também agrega pessoas com diferentes crenças, como cristãos e até judeus.

Segundo Fuad, antes da criação do Estado de Israel, a Palestina era administrada pelo Império Britânico. Mas em 1948, a Inglaterra concedeu à ONU o direito de dividir o território entre judeus e palestinos.

O presidente acredita que a decisão aconteceu porque os ingleses estavam alinhados com os ideais do movimento político judeu sionista, que defendia a “restauração” de um Estado judeu independente. A partir disso, o território foi dividido 55% para judeus e 45% para palestinos.

“No decorrer dos anos, os assentamentos sionistas aumentaram cada vez mais e o povo palestino foi ficando sem terra. Hoje, se você pegar o mapa, vai ver que a ocupação dos palestinos, que é a Faixa de Gaza e a Cisjordânia, não corresponde a 10% do que havia sido dividido. Então essa briga é constante”, resume.

Fortalecimento em Anápolis

Os conflitos entre Israel e Palestina forçaram pessoas a procurarem outros lugares para viver. Apesar de ter nascido em Anápolis, Fuad conta que seus pais são palestinos e vieram para o Brasil em meados de 1948, após a região começar a ser tomada por judeus, com a criação do Estado de Israel.

“Meu pai aproveitou que o irmão dele já havia se refugiado aqui e veio também”, resume.

Segundo Fuad, várias famílias muçulmanas e, principalmente, palestinas vieram para o Brasil em função dessa necessidade de fugir dos conflitos com o povo judeu. Muitas acabaram ficando em Anápolis, pois há cerca de 50 anos, a cidade possuía um comércio cerealista muito forte, que atraía o povo árabe. No caso dos palestinos, as vendas se concentravam em tecidos, roupas e confecções.

“Como eram muitas famílias muçulmanas, elas acabaram se unindo e passaram a discutir a necessidade de existir uma mesquita para fazerem as orações. Até então, a cada sexta-feira, que é o dia sagrado dos muçulmanos, era celebrado na casa de um dos fiéis”, lembra o presidente.

A mesquita do Centro Islâmico de Anápolis começou a ser construída em 1978. Segundo Fuad, sua importância se deu por abranger as comunidades muçulmanas de todas as cidades vizinhas do estado. Durante muitos anos, ele afirma que muitas pessoas saíam de suas cidades para irem até a mesquita na sexta-feira sagrada para fazerem suas orações.

Atualmente, Goiânia tem uma sala de oração islâmica, o que acabou diminuindo a quantidade de fiéis que se deslocam até a mesquita em Anápolis. Mesmo assim, em média 50 pessoas visitam a mesquita de Anápolis todas as sextas-feiras para realizarem orações no dia sagrado ao Islamismo. Mas, segundo Fuad, a importância do templo continua sendo enorme.

“A existência dessas comunidades islâmicas em Goiás e no mundo é muito importante para que o nosso povo consiga manter a sua cultura, as tradições. Nosso sheik é quem celebra as nossas orações e é muito importante existir isso, pois é uma forma de ligação entre a gente e Deus”, comenta.

O sheik Nasser Sahin nasceu no Egito e foi enviado para a mesquita de Anápolis em 2010. Ele conta que deveria ter ficado na cidade exercendo as funções religiosas por apenas 3 anos, mas que ama o Brasil. Desde então, sempre renova para continuar por aqui. “Quem bebe da água do Brasil não vai embora”, brinca.

Ele conta que a mesquita foi construída depois que um brasileiro, comovido com a devoção dos muçulmanos, decidiu doar um terreno para a construção do templo islâmico. A mesquita de Anápolis fica localizada no bairro Cidade Jardim desde o final da década de 70.  

“Eles estavam rezando na praça e um brasileiro perguntou: ‘o que vocês estão fazendo?’ e eles responderam que estavam orando. O brasileiro perguntou se eles não queriam rezar nas igrejas que tem aqui, mas eles expl caram que não, porque tinham sua própria religião. O brasileiro, então decidiu doar um terreno para construção da mesquita. Ele não se converteu ao Islã, não conhece o Islã, não sabe Islã, mas ele ajudou eles”, conta o líder religioso.

Em junho de 2019, a TV Anhanguera foi até a mesquita e mostrou a comemoração do fim do mês do Ramadã. A celebração acontece no 9º mês do calendário islâmico e representa a revelação do Alcorão ao profeta Maomé.

Fonte: G1

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