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quinta-feira, 2 maio, 2024

Alto da Boa Vista: moradora diz que encontrou fraternidade e dignidade na ocupação

“O Alto da Boa Vista me dá o privilégio de cuidar dos meus filhos. Está me ensinando a virar uma microempreendedora. Me ensinando que nada é impossível”, diz Iane Araújo da Silva

A liminar do Supremo Tribunal Federal (STF) que suspendeu os despejos durante a pandemia da Covid não está mais em vigor e, por isso, mais de 800 famílias que vivem na ocupação Alto da Boa Vista, em Aparecida de Goiânia, estão novamente sob risco. Uma delas Iane Araújo da Silva, que vive no local com dois filhos e abriu o próprio negócio: ela vende caldos e pastel.

“Eu já morei nas ruas, já fui garota de programa. Vim para o Alto da Boa Vista em setembro de 2019, onde moro com meus dois filhos”, diz a mãe solo. As crianças são Samuel, de 10 anos, e Luana de 12 – ambos estudam. Ela tem outra filha, de 22 anos, que vive com a mãe dela, também na ocupação.

Iane revela que trabalhava com vendas comissionadas, mas muitas vezes não conseguia pagar o aluguel e precisava viver de favor. Foi, então, que decidiu se mudar para o Alto da Boa Vista, onde encontrou fraternidade e dignidade. “Foi uma vitória vir para cá”, celebra. “Por tudo que eu passei… E hoje tenho o meu comércio.”

O pastel custa R$ 8 e o freguês pode escolher um suco, de laranja ou maracujá. O caldo, R$ 10. A lojinha, em frente a casinha onde vive, funciona das 6h às 23h. No fim de semana tem prato feito e marmita no almoço, por R$ 12 e R$ 15. Um jovem de 15 anos, que sonha em ser jogador de futebol, a ajuda e também ganha uma renda.

Questionada como surgiu a ideia do comércio, ela conta empolgada que, no Natal passado, ganhou R$ 250 de presente e decidiu um investir. Começou com os caldos e as pessoas gostaram. Decidiu, então, continuar. O que ela ganha por mês dá para construir a casa dela, na ocupação – ela vive na casa de um sobrinho, no local –, e comprar as coisas da residência, principalmente para as crianças.

“O Alto da Boa Vista me dá o privilégio de cuidar dos meus filhos. Está me ensinando a virar uma microempreendedora. Me ensinando que nada é impossível”, ressalta orgulhosa.

Ela, contudo, não descarta a preocupação. “Essa semana estamos aflitos, com medo do despejo. O que será de nós se nos tirar daqui? As crianças estão muito apreensivas. Se sairmos, não teremos para onde ir”, desabafa.

Alto da Boa Vista

Existente desde 2018, a ocupação hoje conta com cerca de 4 mil pessoas, sendo a maioria mulheres e crianças. Na segunda-feira (17), o local recebeu a visita da Comissão de Mediação de Conflitos do Tribunal de Justiça de Goiás (TJ-GO), criada após recomendação do STF para buscar soluções para as áreas ocupadas.

As negociações, que se dão de forma pacífica e com diálogo com a comunidade, são vistas como positivas pelo Comitê Goiano de Direitos Humanos Dom Tomás Balduino e pelo Movimento de Trabalhadores e Trabalhadoras por Direitos de Goiás. Isso porque, durante a visita no local, representantes da Prefeitura de Aparecida de Goiânia e Secretaria Municipal de Habitação manifestaram interesse em promover a regularização fundiária, que inclui a aquisição da área.

A compra do terreno seria viabilizada por meio da união dos governos federal, estadual e municipal na formação de um consórcio para garantir a moradia das 800 famílias. Além disso, existe uma sinalização positiva também da Agência Goiana de Habitação (Agehab) de participar desta solução.

Apesar do resultado considerado positivo após a visita da Comissão, as famílias ainda temem que sejam jogadas na rua sem qualquer alternativa ou política pública de habitação. Os moradores estão receosos com as decisões futuras e aguardam uma solução que garantam o direito à moradia.

Fonte: Mais Goiás

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