Segundo analistas, supermercados estão aproveitando menor cotação do boi para aumentar lucro.
O valor do boi caiu bastante nos últimos meses, mas o consumidor ainda não foi totalmente beneficiado por este movimento.
Isso porque os supermercados não estão repassando boa parte da queda de preços que está acontecendo no campo, avaliam especialistas.
Ao mesmo tempo, o poder de compra do brasileiro ainda não melhorou.
“Enquanto o boi gordo caiu cerca de 15% [entre abril e maio], o preço da carne no atacado recuou 7% aproximadamente e, no varejo, teve uma queda de apenas 2% a 3%”, diz o analista da Safras & Mercado, Fernando Henrique Iglesias.
“O que explica esse movimento? O varejo está aproveitando esse momento para ampliar a sua margem operacional [ou seja, o seu lucro]”, acrescenta.
O analista do Safras explica que, quando os preços pagos aos produtores diminuem no campo, o varejo, tradicionalmente, não repassa a queda para o consumidor na mesma velocidade.
Procurou a Associação Brasileira de Supermercados (ABRAS) para comentar a reportagem, e aguarda por um posicionamento.
? O preço do boi caiu quanto? De janeiro a 6 de junho deste ano, a arroba do boi gordo recuou 14,6%, para R$ 244,90. A arroba é uma medida do peso da carcaça bovina. Cada uma equivale a 15 quilos.
A cotação atingiu a sua maior alta em 24 de março de 2022, quando bateu R$ 352. De lá para cá, o valor despencou cerca de 30%.
Os dados são do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (CEPEA Esalq/USP).
? E a inflação das famílias? De janeiro até maio, as carnes recuaram 3,87% nas gôndolas dos mercados. Alguns cortes tiveram quedas maiores, como contrafilé (-5,5%), acém (-5%) e picanha (-4,4%), enquanto o patinho, por exemplo, caiu menos (-2,5%).
Os dados são do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
A arroba bovina está caindo porque a oferta de animal cresceu no mercado, pontua Felipe Fabbri, analista da Scot Consultoria.
Ele explica que o “mercado do boi atua em ciclos” e que muitos desses movimentos é explicado por “uma maior ou menor retenção de fêmeas”.
“A gente costuma brincar que aonde a vaca vai, o boi vai atrás”, diz Fabbri.
Neste momento, tem mais fêmeas sendo abatidas.
Fabbri detalha que, de 2019 para 2020, os preços dos bezerros começaram a subir porque a oferta desses bovinos mais jovens caiu.
“Para a gente ter o bezerro, é preciso que a vaca seja retida [mantida no campo] pelo produtor, para que, lá na frente, a oferta cresça”.
Em 2020, portanto, o produtor começou a segurar as vacas no campo. E, em 2021, manteve esse movimento.
Com a oferta crescente de bezerros, os preços começaram a cair, reduzindo o faturamento dos produtores, cenário que acaba estimulando, por sua vez, um maior abate das fêmeas
estimulando, por sua vez, um maior abate das fêmeas
Fonte: G1