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quinta-feira, 21/11/2024

A lição de Mocidade que os governantes se negam a aprender

Em João Pessoa, no final dos anos 60, havia um baiano conhecido como “Mocidade”. Era um tipo maduro, inteligente, com razoável cultura e oratória incendiária. Não trabalhava. Vivia de favores, de quem pagasse suas contas.

Uma vez eleito governador da Paraíba, João Agripino tomou-se de amores por Mocidade. Admirava seus ditos e o raciocínio rápido. Dava-lhe trocados e roupas. Mocidade passou a dormir no alojamento da Casa Militar no Palácio da Redenção.

Certo dia, o secretário de Segurança Pública telefonou para Agripino a propósito de uma manifestação estudantil que ameaçava escapar ao seu controle. “Os estudantes estão fazendo confusão no Ponto Cem Réis”, contou o secretário.

O Ponto Cem Réis era uma espécie de Cinelândia de João Pessoa, ou da Boca Maldita de Curitiba porque era frequentado por deputados, secretários do governo e políticos de outros Estados em visita à Paraíba. Tomava-se ali um bom café. Agripino ordenou:

– Não prenda ninguém.

– Mas o senhor sabe quem lidera a manifestação? – perguntou o secretário. “É o Mocidade. Está falando muito mal do governo.”

– Então o prenda e o traga à minha presença – decretou Agripino.

Mocidade escapou de ser preso. E à noite, ao chegar ao palácio pensando em dormir, foi levado para uma conversa com Agripino.

– Mocidade, quem paga sua comida? – perguntou Agripino.

– Bem, é o senhor, não é? – devolveu Mocidade, desconfiado e à espera do pior.

– Não. Quem paga é o governo da Paraíba – disse Agripino. E prosseguiu no interrogatório:

– Quem lhe dá um teto?

– Bem, nesse caso, é o governo da Paraíba – Mocidade respondeu.

– É isso mesmo, – concordou Agripino.

Em seguida fez uma pausa, deu um trago no cigarro e encaixou o golpe sem conter mais a irritação:

– E como é que o senhor, logo o senhor, tem coragem de ir para as ruas falar mal do governo, do meu governo?

A resposta de Mocidade veio rápida:

– Sabe o que é mesmo, doutor? É que governo foi feito para apanhar.

Pano rápido.

Cuide-se, Lula. Não importa que seu governo tenha começado apenas há 10 meses. E que os primeiros meses tenham se passado à sombra do golpe de 8 de janeiro. Não importa se as viagens internacionais consumiram boa parte do seu tempo.

E para completar, que as dores lancinantes nos quadris tenham tornado sua vida um inferno. Não vai demorar para que culpem o governo pelo agravamento dos problemas da área de segurança pública. A mão que afaga é a mesma que apedreja. Anote.

Fonte: Metrópoles

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